A partir do momento em que cheguei ao Sundance, o filme que mais ou menos todo mundo, incluindo a mim, mais queria ver era “The Runaways” – e não só porque oferecia a chance de ver se Kristen Stewart, como Joan Jett, poderia deixar para trás o seu atordoado personagem de lamentação em “Crepúsculo”, e interpretar uma princesa do rock n’ roll com coragem suja-triste. (Veredicto: Ela pode). É também por causa de The Runaways, um grupo fascinante de adolescentes punks com cabelo repicado de Los Angeles, em 1976, que fez pelas garotas tocando power chords o que o Sex Pistols fez pela anarquia cuspidora de cerveja, pode parecer mais legal agora do que na parecia na época. Em retrospectiva, elas desbravaram um caminho difícil, mas não tinham muitas músicas boas – e até mesmo a melhor delas, “Cherry Bomb”, nunca se livrou completamente da imagem jailbait (“Lolita”) de agir.
A coisa mais interessante sobre o filme é que diretora-roteirista, produtora de clipes veterana Floria Sigismondi (fazendo a sua estréia no cinema) tem um sexto sentido de como The Runaways eram uma imagem em primeiro lugar, e uma banda rock n’ roll em segundo lugar. Já no início, vemos a Joan cabelo-preto-repicado, de Stewart, em uma butique, onde ela tem de convencer a vendedora a vender para ela uma jaqueta de motoqueiro masculina de couro, a qual ela veste como se tivesse nascido para ela.
A atuação sem frescuras, casualmente simpática de Stewart começa com o característico passeio “menina-dura” de Jett – o que quer dizer que a atriz sabe como andar igual a um cara magricelo. Ao mesmo tempo, nós conhecemos Cherie Curry, que corta o cabelo louro-prateado igual ao cabelo de David Bowie, maquia o rosto como a capa do álbum “Aladin Sane” dele, e canta a música dele em um show de talentos no colégio, em que resulta em um bombardeio de maços papel.
Essas garotas, claramente, tem um forte senso de sua moda underground. Mas é preciso Kim Fowley (Michael Shannon), o reconhecido produtor de músicas que se torna o louco Svengali delas, para ensiná-las a detonar como os garotos. Fowley, que prefere jaquetas vermelhas de couro e colares do tamanho de tiaras, é um malandro-manipulador alucinado que parece um Frankenstein punk e grita tudo como se estivesse meio mal humorado. Ele é um estranho cara impiedoso, mas que sabe o que vende. Ele encontra Cherie em uma boate, imediatamente colocando-a na banda como se estivesse escalando um filme pornô. O fato de ela ter só 15 anos é, para ele, a cobertura perfeita de um bolo de garotas rebeldes.
Tem uma cena engraçada no trailer onde as garotas ensaiam em que Fowley, com uma pequena ajuda de Joan, cria “Cherry Bomb” (“Hello, daddy! Hello, mom! I’m your ch-ch-ch-ch- cherry bomb!”), ele ensina a Cherie como cantar… sórdidamente. Aparentemente, ela deveria ser doce, uma garota quieta que ama Peggy Lee e Don McLean, mas ela aprende como rosnar e “manusear o seu saco”. Então Fowley ensina as garotas a enfrentar os desordeiros e a revidar. Em um concerto no Japão, elas estão em plena floração, e você pode sentir o magnetismo do que é a novidade sobre essas garotas cooptando o impulso hormonal masculino e torná-lo delas próprias.
Quando se afasta do palco, no entanto, e da iconografia de empoderamento sustentado no diabo em lingerie, “The Runaways” é apenas uma filmografia mais ou menos, com personagens pouco imaginados e desconexos, uma negligência após outra em episódios de um filme para TV. Entende-se que tem um desafio especial em trazer essa história à vida: as Runaways foram realmente apenas garotinhas que se alimentavam de uma indústria de imagens e marketing, controlado, é claro, por Fowley, o empresário-produtor do inferno. Então, elas são realmente recipientes passivos em suas próprias histórias. Mas “The Runaways” as torna passivas de outra maneira: elas foram feitas tão simpáticas e inocentes e curiosamente impetuosas que elas não tem egos, erotismo ou qualquer outra coisa. Stewart, com lápis preto nos olhos, acerta em cheio a forte atitude de Jett, mas as inclinações sexuais dela são tratadas como insinuações no estilo de vídeo clipes musicais. O que eu quero dizer é porque ser tão recatado em um filme que deveria ser supostamente uma celebração barulhenta de um novo tipo audacioso de poder sexual feminino?
Mas então, Joan é realmente apenas um jogador secundário aqui. “The Runaways” é retratado como a história de Cherie Currie – e os pequenos conflitos fornecidos por ela, embora possam estar enraizados na verdade, não são desenvolvidos de uma forma convincente. Ela disputa, cansativamente, com sua irmã gêmea (Danielle Riley Keough), e quando Fowley a força para fazer uma foto solo para uma revista, Joan briga com ela por vender a imagem da banda. Me perdoe, mas a Joan entende o que a banda está vendendo? Cherie mergulha no vício das drogas e do álcool, mas o roteiro é tão disperso que a atuação de Dakota Fanning termina um pouco sem sentido, espalhada por todo o lugar. Ela é uma aberração de Bowie, uma suave roqueira inocente, uma viciada dissoluta, uma boa menina fora de si – e com tudo isso acontecendo, ela nunca levanta a voz. “The Runaways” mostra a você que as Runaways eram autênticas – se embaladas – estrelas, e que elas foram vitimizadas por estarem à frente de seu tempo. Como uma banda, o filme dá a elas o que é devido, mas como indivíduo não as faz interessantes.
Fonte: Kstew-Army
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